Para conhecer o Jesus Cristo “real” (Parte 1)

Tomé

[…] Precisamos de Cristo. Precisamos de um Cristo real. Um Cristo nascido de especulações vazias ou criado para ser espremido dentro de um padrão de um filósofo simplesmente não dá certo. Um Cristo reciclado, um Cristo de concessões, a ninguém pode redimir […].

[…] O que os eruditos têm descoberto por detrás do véu foi um espelho de seus próprios preconceitos e um Jesus criado segundo a própria imagem deles. Os liberais do século XIX encontraram um Jesus “liberal”; os existencialistas encontraram um herói existencialista; e os marxistas encontraram um revolucionário político. Os idealistas encontraram um Jesus idealista e os pragmáticos descobriram um Jesus pragmático. Buscar por detrás ou além do Novo Testamento é ir a uma caça de lugar escondido armado com a lanterna do orgulho e do preconceito […]. O século XIX trouxe uma crise intelectual e moral à Igreja. Com o surgimento da teologia liberal que rejeitava frontalmente o âmago sobrenatural do Novo Testamento, a crise pressionou pesadamente sobre questões muito práticas. Se os líderes de uma igreja ou os professores de um seminário acordassem certa manhã e descobrissem que não mais acreditam no que a Bíblia ensina ou no que a Igreja confessa, quais seriam as suas opções?

A opção mais óbvia e a primeira a se esperar de homens honrosos, é que eles declarassem a sua incredulidade e polidamente deixassem a Igreja. Se eles controlam as estruturas de poder da Igreja, entretanto, eles têm perguntas práticas a considerar. Por vocação e treinamento, seus empregos estão vinculados à Igreja. A igreja representa um investimento financeiro de muitos bilhões de dólares, uma instituição cultural estabelecida, com milhões de membros ativos […] Esses fatores fazem com que a declaração de incredulidade ao mundo e o fechamento das portas às Igrejas seja menos atraente. O curso de menor resistência consiste em redefinir o cristianismo.
[…] Para que haja uma redefinição do cristianismo, seria preciso banir o Cristo da Bíblia e o Cristo dos credos […].

[…] A Igreja é chamada de “o corpo de Cristo”. Alguns estudiosos referem-se a ela como “a encarnação contínua”. Por certo a Igreja existe para incorporar e levar avante a missão de Cristo. A igreja é inconcebível sem Cristo. Mas a Igreja não é Cristo. Foi fundada por Cristo, formada por Cristo, comissionada por Cristo e dotada espiritualmente por Cristo. É governada por Cristo, santificada por Cristo e protegida por Cristo. Mas não é Cristo. A Igreja pode pregar a salvação e nutrir os salvos, mas ela não pode salvar. A igreja pode pregar, exortar, repreender e admoestar contra o pecado. Pode proclamar o perdão dos pecados e dar definições teológicas ao pecado; mas a Igreja não pode fazer expiação pelo pecado.

Foi S. Cipriano quem declarou: “Não pode ter Deus como Pai quem não tem a Igreja como sua Mãe”. Precisamos da Igreja tanto quanto um bebê que está com fome tem necessidade do leite de sua mãe. Não podemos crescer ou ser nutridos sem a Igreja. Possuir Cristo e, ao mesmo tempo, desprezar a Igreja, é uma intolerável contradição que ninguém pode suportar. Não podemos ter Cristo sem abraçar a Igreja. Mas é possível alguém ter a Igreja sem ter, realmente, aceito a Cristo. Sto. Agostinho descreveu a Igreja como um corpus permixtum, um “corpo misto”, composto por trigo e joio, ou seja, composto por crentes e incrédulos que existem lado a lado. A incredulidade pode obter acesso à Igreja – mas nunca a Cristo […].

À parte da Bíblia, nada sabemos de indispensável acerca do Jesus real. Em última análise, nossa fé fica de pé ou cai por terra com o Jesus bíblico […].

Alguns objetam neste ponto, chamado atenção para o fato óbvio de que o retrato neotestamentário de Jesus chegou até nós das penas de homens preconceituosos que tinham um programa de ação. Os evangelhos não consistem em história, dizem eles, mas numa história remidora acentuada sobre os esforços para persuadir os homens a seguirem a Jesus. Pois bem, por certo os escritores tinham um programa de ação, mas esse programa não era secreto. Disse com toda a sinceridade o apóstolo João: “Estes [sinais] foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (1 João 20. 31).

O fato de que os escritores bíblicos foram, eles mesmos, crentes, e mostraram-se zelosos por persuadir a outras pessoas, contribui para a veracidade do que diziam. Tivessem sido eles incrédulos, ao mesmo tempo em que exortavam outros a crerem, teriam sido culpados de duplicidade. Naturalmente, os homens podem ficar equivocados com aquilo que proclamam, mas o fato que eles acreditavam em sua própria mensagem, mesmo até a morte, deveria destacar, em lugar de enfraquecer, a credibilidade deles.
O que nos deixaram é, realmente, uma história de redenção. De redenção porque eles não estavam escrevendo do ponto de vista de historiadores neutros e desinteressados. E foi história porquanto insistiam que seu testemunho era verdadeiro.

Neste ponto, vem à superfície uma questão prática, ouvida nas ruas e da parte de céticos calejados, que buscam desacreditar o Cristo bíblico ao exporem o Cristo apostólico como uma fantasia. Se os associados mais íntimos de Jesus foram preconceituosos (pois eram crentes), qual é o sentido de uma erudição laboriosa para descobrir o Jesus “real”? Se tudo quanto aprendemos sobre Jesus é aprendido através do testemunho dos apóstolos – se eles são a “tela” por meio da qual nós devemos contemplar a Jesus, a fim de vê-lo – de que valem os nosso esforços?

A resposta é que o Jesus histórico não viveu em um vácuo; Ele se tornou conhecido, pelo menos em parte, pela maneira como transformou aqueles que viviam ao seu redor […].

[…] Quero conhecer o Jesus que radicalizou Mateus, que transformou Pedro, que virou de ponta-cabeça Saulo de Tarso na estrada para Damasco. Se essas testemunhas em primeira mão não me podem levar ao Jesus “real”, quem poderá fazê-lo? Se não é através de amigos e entes queridos, como alguém pode tornar-se conhecido?

Para saber mais, leia o livro: “Discípulos Hoje” de R C Sproul

(R C Sproul/ “O Verdadeiro Jesus Poderia Se Levantar, Por Favor?”/ Discípulos Hoje)

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Ser discípulo: lições e implicações (Parte 1)

(Por Gabriel Felipe M. Rocha)

 

[…] Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus (Lucas 9: 62)

 

No capítulo 9 (versos 57- 62) do Evangelho segundo Lucas, há um importante ensinamento para quem pretende ser discípulo de Jesus. Daremos ênfase, portanto, ao verso 62. No entanto, caberá aqui uma breve abordagem do capítulo 9.

Interessante que, em todo o capítulo 9, há uma bela sequência de ensinamentos que remetem à prática do discipulado. Creio que o último versículo do capítulo 9 (v. 62), onde Cristo chama a atenção para o exemplo do arado e da firme adesão e decisão em relação ao serviço do Evangelho, é um relevante fechamento de toda essa sequência de ensinamentos.

Nos primeiros versículos, onde houve a convocação dos doze para uma missão específica, Jesus deixa alguns ensinamentos práticos para seus discípulos, incluindo, os doze discípulos principais.

Ocorreu, então, um trabalho de campo (v. 1-6), onde Jesus ensinou que:

  1. É Ele quem convoca (v.1), sendo Deus quem nos chama;
  2. É Ele quem nos capacita para o trabalho, concedendo-nos poder, talentos e dons (v.1);
  3. É Ele quem nos envia e dá total condição para o cumprimento do serviço (v.2, 3);
  4. É nele que devemos colocar nossa confiança e não em nossos próprios recursos (v.3);
  5. E, por fim, nós devemos fazer tudo conforme suas ordens e sua Palavra (v. 4-6).

Houve também a multiplicação dos pães e peixes (v. 10-17). Foi essa a primeira multiplicação. O interessante nessa multiplicação é o fato de, a mesma ter como objetivo não só a simples alimentação da multidão ou a mera apresentação de poderes por Jesus Cristo. Não foi a experiência do milagre a única proposta da multiplicação, mas sim a prática do discipulado. Aliás, experiências que não geram ação, são experimentalismos vazios. Evangelho é ação! Ser discípulo é aprender e agir conforme quer o Mestre. Creio que dois versículos demonstram com mais veemência o que quero dizer. Esses são: “[…] Dai-lhes vós mesmos de comer” (v.13) e, “[…] abençoou e partiu e deu aos seus discípulos para que distribuíssem entre o povo” (v.16). Eles viram o milagre. Mas, eles puderam participar do milagre. Aí residia o ensinamento.

Primeiro: Jesus sabia da condição de seus doze discípulos, assim como sabia que eles não tinham alimentos suficientes para alimentar uma multidão. Mas, quando Jesus pede para que eles mesmos dessem ao povo algo para comer, queria testá-los e chamar a atenção dos mesmos (e também nossa) para a seguinte reflexão:

a) Não temos recurso algum para alimentar todo esse povo;

b) Nada podemos fazer se Deus não for conosco e operar um milagre;

c) O alimento que pode saciar o povo, não vem de nós, mas vem de Deus;

d) Contudo, podemos participar desse milagre, em obediência, distribuindo ao povo aquilo que vem de Deus. Esse é o nosso trabalho e a nossa missão! Fazer a vontade de Cristo é a nossa missão;

e) De nossos poucos recursos, Deus ampliou e multiplicou, dando-nos condição de fazer aquilo que Ele pediu e nos comissionou. Portanto, é a partir de nós mesmos que a missão será cumprida, sendo de Deus a provisão.

f) Nossa missão deve ser realizada em meio ao povo, em meio à multidão e não distante deles. Cabe a nós distribuir o alimento que vem de Deus e não deixá-los famintos.

Portanto, meus queridos leitores, mais um ensinamento, relacionado à prática do discipulado se apresenta a nós em total relevância.

Outro fato pertinente ao aprendizado dos discípulos ocorre logo após o milagre da multiplicação, a saber: a confissão de Pedro (v. 18 – 20).

Os discípulos estavam já envolvidos com o ministério de Jesus. Já haviam visto muitos milagres e ouvido muitos sermões e parábolas. Mas não tinham, porém, uma visão completa de quem era Jesus, ou seja, desconheciam a profundidade e o caráter profético do ministério de Jesus Cristo sobre a terra; eles desconheciam a divindade daquele Jesus. Para muitos deles, Jesus era o homem, o profeta e aquele que operava muitos milagres.  Alguns até o trataram como o Messias (Jo 1: 41), mas ainda desconheciam a grandeza de propósito da sua vinda. Tanto que, na resposta que Pedro deu sobre quem é o Cristo (v.20), tendo ele recebido do próprio Deus tal revelação (Mt 16: 17), Jesus destacou a bem-aventurança de Pedro, dando a entender com clareza que, em detrimento dos outros discípulos, Pedro alcançara algo espiritualmente profundo. Algo que os colegas ainda não haviam recebido, tampouco entendido.  Uma lição que temos a partir disso é a seguinte:

  • Muitos estão nas igrejas, até fazem parte de algum ministério em suas igrejas locais, mas ainda não conheceram com profundidade o Cristo a fim de fazerem a sua vontade. Em seus corações não houve ainda a real conversão e o efetivo conhecimento de Jesus como o Filho de Deus, o Cristo que é Senhor e que pode salvar;
  • O discípulo é aquele que conhece o seu Senhor e que recebeu em seu coração a revelação de Jesus Cristo pela pregação da Palavra e pela fé;
  • Não pode haver um trabalho evangélico eficaz se aquele que se diz servo não conhecer o seu Senhor e não ser participante dos mistérios de seu Senhor;
  • Na ocasião da revelação dada a Pedro sobre quem era o Cristo, o mistério ainda estava oculto aos santos, mas foi revelado após a ressurreição e pentecostes. (Jo 21: 1; At 1: 6-8; Cl 1: 26; Cl 2: 2,3). Além do mais, a Igreja tem hoje a Escritura que é a revelação especial dos mistérios de Deus, sendo ela a revelação de Jesus Cristo (Jo 5: 39; At 17: 11; 2 Tm 3: 16).

Tendo, portanto, conhecido o seu Senhor, o bom discípulo está apto para servi-lo.

Continua na próxima postagem.